História

 

VIADUCTOS - A SAGA DE NOSSA TERRA, SUA GENTE.

 

Foi no ano de 1889, que o Imperador Dom Pedro II concedeu ao Engenheiro João Teixeira Soares, a concessão para construir uma ferrovia que teria fundamental importância para a Região Alto Uruguai (RS), ou seja, a estrada de ferro São Paulo – Rio Grande. Tal ferrovia seria uma ferrovia vertical, ligando o Estado de São Paulo ao estado do Rio Grande do Sul. A São Paulo – Rio Grande seria  uma ferrovia muito longa, partindo da cidade de Itararé em São Paulo, passando pelo Paraná, por Santa Catarina e atingindo o Rio Grande do Sul pela região norte (através do município de Marcelino Ramos), de onde iria terminar em Santa Maria. Esta estrada seriam sem dúvida e o foi a grande responsável pelo crescimento dos municípios de nossa região.

A Estrada de Ferro e a Estação Ferroviária foram para Viadutos não só a mola propulsora do surgimento, mas o coração de Viadutos e dos viadutenses, todo o movimento inerente a economia e o tráfego de pessoas aconteciam na estação e em seu entorno.

Conforme dados históricos e relatos dos pioneiros e seus descendentes, a história propriamente dita teve início nos primórdios do Século XX, ou seja, 1900 – 1905...! A partir de 1908 com a construção da estrada de ferro e a vinda dos operários da ferrovia foram os primeiros núcleos de moradores e no entorno as primeiras casas comerciais.

Em 25 de outubro de 1910 inaugura-se então a Estação de Viadutos pela CompagneAuxiliaire Dês Chemius de FerAuBrésil que tinha a concessão para construir a ferrovia na região do Alto Uruguai – porém somente no ano seguinte, 1911, os trens passaram a manter o tráfego regular no trecho Passo fundo – Marcelino Ramos – que até então era feito até Barro (Gaurama).

A partir de então Viadutos passa a ser servido por um trem “Misto” semanal (Terças-feiras descia e Quartas-feiras subia) e por volta de 1913 passamos a ter três trens semanais - dois mistos e o chamado “Noturno Paulista”.

Nos mesmos havia duas classes – 1ª e 2ª - dependendo sempre do status do passageiro, quem tinha dinheiro viajava de 1ª classe com todo conforto possível e os demais nos vagões mais simples.

Cabe ressaltar que foi na plataforma da Estação e pela Estação que se deram os grandes acontecimentos políticos e sociais, onde se concretizaram grandes negócios, carregamentos, descarregamentos de mercadorias para o comércio, animais, ferramentas, cimento, dormentes, etc...e o escoamento dos nossos produtos. O embarque e desembarque de pessoas que iam e vinham...casais, namorados que se despediam, que se reencontravam amigos e parentes, se obtinha notícias nacionais e internacionais, jornais, revistas...! O contato com o mundo com certeza se dava por ali. Era o palco de todos os acontecimentos, inclusive muitas crianças e jovens iam vender frutas e quitutes caseiros para angariar alguns reis (dinheiro da época) para as famílias sobreviverem, outros carregavam malas para também lucrar.

A versão/ ou origem do nome “Viaductos” foi dada pelos ferroviários que construíram o trecho da ferrovia que liga Gaurama e Viadutos, devido aos vários viadutos (pontes) existentes em consequência da declividade e dos vales da região. Tais viadutos são a exposição material da técnica belga e da força do capital europeu trazidos para a região.

Com o término da construção da ferrovia em setembro de 1910 começa o fluxo migratório e o povoamento da Vila e do interior...!

Além dos operários da construção da ferrovia que aqui se estabeleceram, chegaram italianos, alemães, poloneses, suecos, armênios, russos, austríacos e outros...sendo que os mais idosos (patriarcas), a maioria originários de seus países, imigrantes do norte da Itália, Alemanha, Polônia, Armênia, Suécia, Rússia, etc. Os italianos com seus descendentes migraram da Serra Gaúcha (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Antônio Prado e outros), os alemães do Vale dos Sinos (São Leopoldo, Novo Hamburgo), poloneses da região de São Marcos, há também outras etnias, porém, em menor número. E é nesse contexto que a Vila começa a prosperar, abrindo caminhos para a ocupação da terra muito fértil e com água abundante – antes completamente desabitada.

Não há indícios de que indígenas tenham se fixado por aqui, embora se tenha encontrado alguns objetos indígenas, se deduz que esporadicamente por aqui “passaram” alguns grupos, provavelmente “Kaigangues” e Coroados, quese locomoviam de um local para outro, dentro da região Alto Uruguai, a procura de caça, pesca e outros alimentos.

Os primeiros moradores, exceto os operários da ferrovia, vieram em sua grande maioria a cavalo até Passo Fundo e de lá de trem. Traziam consigo alguns utensílios de uso doméstico, mala ou baús, com poucas roupas, documentos quem tinha; alguns animais. Aqui chegando tiveram que manobrar com muita coragem e valentia a foice, machado, facão...

A floresta era densa, compacta, com muitas espécies de árvores como: açoita cavalo, canela preta, amarela, louro, cedro, grápia, canjarama, angico vermelho, guajuvira, o pau-ferro, a pitangueira, o ipê, a tarumã, jabuticabeira, o pinheiro (araucária), a erva-mate e outras...! A floresta nativa apresentava uma diversidade muito grande de espécies fornecedoras de madeiras para habitações, razão pela qual aqui se estabeleceram diversas serrarias.

O solo muito bom para a agricultura, formado a partir de rochas basálticas, ligeiramente ácidas, de boa fertilidade, garantiam que nenhuma família passaria fome.

As terras pertenciam ao governo. Cada família requisitava uma colônia de 12 alqueires. Havia um fiscal, um tal Vargas, que fazia o controle na entrega da terra e embargava o trabalho quando derrubavam o mato – punindo com multa e prisão. Andava sempre a cavalo – sendo que em 1910 embargou as terras ainda não tranceadas e apenas 12 anos mais tarde o governo voltaria a traçar as terras (nunca se soube o motivo de tal ato), porém, sabe-se que os impostos sempre foram cobrados.

As primeiras casas feitas por imigrantes eram feitas de madeira lascada com cunha e machado, eram pequenas, de costaneiras, casinhas com coberto de tabuinhas, mas com o chão de terra batido. Posteriormente preparavam as madeiras e arrastavam com juntas de bois, até o local onde seria erguida a futura casa.

Erguiam suas casas perto dos rios e fontes de água, como garantia de água para o consumo da casa, dos animais e plantas. Cabe destacar que o município de Viadutos é banhado por quatro rios principais: Rio Suzana, Rio Apuaê Mirim, Rio Apuaê e Rio Teixeira Soares.

As casas eram com muitos cômodos – a cozinha geralmente separada dos demais cômodos por uma área aberta – era de chão batido, o fogão feito de terra com barro “Larim” ou “Fogaler” – onde faziam o cozimento dos alimentos e se aqueciam nas estações frias. Na cozinha não havia pia, havia sim o “secher” colocado por fora da janela para lavar as louças, mesa e alguns bancos para sentar. Nos quartos, camas de madeira, colchão feito de palhas de milho, travesseiros de penas e roupas penduradas em pregos ou ripas. Na parede quadros de Santos, Cruz de Jesus. O tanque era de madeira com um (level) composto de tábuas colocadas dentro da margem do rio. As roupas eram lavadas com sabão caseiro, feito de gordura de animais, tripas, água e soda cáustica, expostas ao sol para sair a sujeira. Os utensílios agrícolas (enxada, foice, arado, etc), eram guardados no paiol, anexo a casa ou no porão da casa.

A iluminação era feita de lampiões à querosene, ou com banha colocada nos “charetos” ou outros recipientes com uma tira de tecido ou barbante onde se ateava fogo.

Além de todas as adversidades das matas, a alimentação das famílias se baseava muito naquilo que a natureza possuía e as matas fechadas e rios ofereciam,havia animais e aves em abundância, como: periquitos, tucanos, colibris, pica-paus, bem-te-vi, pombos, ferreiro, papagaios...

- Macacos (bugios), veados, porcos selvagens, antas, capivaras, pacas, lebres...

- cobras corais, jararacas, urutus, surucucus, onças, tigres...

- Guarás, graxains, furão, a iara, o puma, a jaguatirica, gato do mato, tamanduá, tatu, lagartos, etc...isso dificultava o armazenamento dos produtos nos galpões e nas lavouras, pois alguns desses animais invadiam e comiam o milho, alfafa, feijão e outros alimentos das plantações, ocasionando prejuízos aos colonos.

- Em nossos rios também havia peixes em abundância como: traíra, jundiá, lambari, dourado, surubi, piava, etc.

Mas com o decorrer do tempo a alimentação começou a se diferenciar, conforme o que produziam, as etnias passaram a consumir o que lhes era de costume como: os italianos que eram a maioria, tinham em seu cardápio além da caça e pesca, polenta, fortaia, radiccicotti, feijão (verduras, abobrinha, est). Os alemães: repolho, batatas, zilse, chucrute, cuca, etc. Os poloneses: czarnina, pierog, etc. Carne só em ocasiões especiais e quando abatiam animais, cozinhavam a carne e guardavam nas latas de banha para conservá-las. Com o passar dos tempos as etnias foram se mesclando, surgindo novos hábitos alimentares.

Normalmente os namoros aconteciam entre pessoas da mesma etnia. Os jovens encontravam-se nos filós, na vizinhança, hábito conservado por muitos anos nas colônias e durante o trabalho nas roças, pois os vizinhos se ajudavam muito e era nos terços ou cultos nas capelas que surgiam os namoros – flertavam usando o piscar os olhos ou até por serenatas feitas pelos jovens com amigos. O namoro era no pátio ou na sala, sempre com alguém por perto, casavam muito jovens. A moça era pedida em casamento pelo rapaz e pelos pais do noivo. A noiva mostrava seu enxoval para as amigas – levavam de dote lençóis, bordados por elas, fronhas, toalhas, etc, e era transportado de carroça até a casa, onde iam morar. As moças recebiam de herança o enxoval, a máquina de costura, e antes do casamento iam aprender corte e costura e algumas vezes ganhavam uma vaca de leite, e os rapazes recebiam terras, de sexo e gravidez ninguém falava...!

Casavam, construíam família, recebiam terras, formavam seu patrimônio e assim traçaram a história local – sempre conservando cada qual seus costumes, suas raízes, contribuindo com a evolução rural e urbana nos diferentes momentos da história local - mais ou menos assim construímos a história que hoje tentamos registrar... lembrando que o elemento mais importante para a urbanização de Viadutos foi a construção da ferrovia.

Há muito que se dizer, perguntar, contar... mas o tempo o fará...!